sábado, 11 de dezembro de 2010

Um olhar

No pescoço, um cordão verde. Carregava um bilhete único especial. Acompanhado pelo pai, o garoto ouvia o rádio pelo celular e em alguns momentos sua voz entoava parte da canção. Vestia um uniforme, na sua camiseta estava escrito “Instituto de Cegos Padre Chico”. Encostou a cabeça no ombro do pai, depois tentou deitar em seu colo, mas ao tatear o braço daquele simpático senhor, encontrou um relógio e disse: Presente para mim você não compra, né? O pai balançou a cabeça e retrucou: Não comprei nenhum presente, preciso dele para saber as horas. Mas o garoto parecia apenas brincar com seu pai. Mantinha os olhos abertos, mas sempre de cabeça baixa. Conforme a música que escutava, expressava sorrisos e até gargalhadas. Ele enxergava com a mente e o coração. Os sentimentos transmitidos através da voz de outras pessoas o impressionavam. Criava imagens que só uma pessoa que “vê” como ele entenderia.
Aqueles cabelos grisalhos demonstravam a vida de um pai cansado, que luta pela educação de um filho com as janelas da alma fechadas pela escuridão, trancado em um mundo imaginário de formas, cores e luz. Fazia com amor e por amor, amparava seu filho nos braços toda vez que ele vinha até eles. Inquieto, o garoto só queria escutar o rádio... Um meio de comunicação muito apreciado, pois seu semblante denunciava isso. Seu olhar de significados, da percepção e de uma vida assolada pelas sombras mudava com a música, que lhe dava a possibilidade de ver muito além dos olhos.

4 comentários:

s2...Ná...s2 disse...

As vezes eu fecho os olhos enquanto ando, tentando imaginar como é uma vida na escuridão, mas as vezes assustada abro os olhos rapidamente, vendo que não estou habituada a ficar sem eles. Quando os olhos se fecham todos os outros sentidos se abrem... "O essencial é invisivel aos olhos, só se vê bem com o coração". Por isso pessoas assim costumam ser muito mais intensas e verdadeiras com seus sentidos e expressões. Simplesmente lindo o seu texto Aninha... Muito coberto de Amor.. QUE A EXPRESSÃO SILENCIOSA que tem o som da mais linda canção.

Helouquinha disse...

Aninha,
Tua sensibilidade me leva a conclusão do qu ja lhe disse antes, de flocos de neve, momentos puros de alegria.
Pois bem a Na citou pequeno principe e concordo com as palavras dela, temos os 5 sentidos, graças a Deus, porem os mais sensiveis se imaginam sem um deles e neste momento me recordo de um outro texto:
Ds Cegos, por Chales Baudelaire

"Contemplai-os, ó minha alma; eles são pavorosos!
Iguais aos manequins, grotescos, singulares,
Sonâmbulos talvez, terríveis se os olhares,
Lançando não sei onde os globos tenebrosos.

Suas pupilas, onde ardeu a luz divina,
Como se olhassem à distância, estão fincadas
No céu; e não se vê jamais sobre as calçadas
Se um deles a sonhar sua cabeça inclina.

Cruzam assim o eterno escuro que os invade,
Esse irmão do silêncio infinito. Ó cidade!
Enquanto em torno cantas, ris e uivas ao léu,

Nos braços de um prazer que tangencia o espasmo,
Olha! também me arrasto! e, mais do que eles pasmo,
Digo: que buscam estes cegos ver no Céu?"

Beijos e ótima semana

Helouquinha disse...

sim a ficha ai de cair...
obrigada

Analina Arouche disse...

Ná, eu fiquei muito feliz em vê-lo, ele era alegre. Via com pureza! Super verdadeiro.

Helouquinha, bom saber que existem mais pessoas sensíveis. Lindo esse texto!

Johnny, ainda não assisti, mas pretendo. Bons filmes nos ensinam muito.

Agradeço as visitas e comentários.
Abraços!