sábado, 16 de outubro de 2021

Empatia: o novo bom senso desse tempo

Crédito imagem: celebrities.id/soompi

Essa série não é sobre violência. Não é sobre jogos infantis. Essa série não é sobre sexo e drogas. Não é sobre tráfico de órgãos. E também não é sobre dinheiro. E, óbvio, não é para crianças. Essa série é sobre o submundo. É sobre viver na extrema linha da miséria. É sobre amigos de infância que cresceram no mesmo bairro e tiveram oportunidades diferentes. É sobre apostar em corrida de cavalos com o dinheiro 'furtado' da mãe idosa e diabética. É sobre não conseguir comprar frango frito no aniversário da própria filha. É sobre levar tapas na cara na estação do metrô sem motivo aparente para levar o mínimo de sustento para casa. É sobre ir à polícia, falar de algo realmente sério e grave e, mesmo assim, desdenharem de você. É sobre se humilhar para a família da ex-mulher pedindo dinheiro para cuidar da mãe doente. É sobre a batedora de carteira que busca alternativas não plausíveis para tirar o irmão do orfanato. É sobre o estrangeiro que trabalhou suado e não recebe o salário do patrão aproveitador. É sobre uma jovem abusada, física e psicologicamente, pelo padrasto evangélico e que abre mão da própria vida em um jogo, por considerar que não tem melhores motivos para sair dali. É sobre respeito ao idoso com tumor na cabeça que mija nas próprias calças e apresenta sinais claros de demência. É sobre o policial que tenta ser herói e se dá mal. É sobre game over, é sobre o fim do jogo para milhares de pessoas. É sobre não conseguir pagar as próprias contas. É sobre não conseguir se alimentar. É sobre achar que 'viver' é pesado demais para continuar do lado de fora. É sobre o jogo da vida. E todos estão tentando sobreviver. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Somos todos Coringa


Sorrir sempre. Colocar um sorriso no rosto das pessoas, foi pra isso que você veio ao mundo? Os nossos próprios demônios já são difíceis demais de lidar, nossos traumas, nossas crenças, os desígnios que são traçados para nós por terceiros ditam nosso comportamento doentio. Desatinados, acumulamos inconscientemente os desejos mais perversos, as vontades mais primitivas que quando expressas despertam a loucura, causam estranheza. As circunstâncias do labor, a exigência pela agradabilidade das nossas atitudes, ser piada sem se fazer piada, nossos corpos são reduzidos a sacos de pancada. Os que fingem que se importam estão ocupados demais e os que não se importam fazem questão de deixar evidente todas as nossas faltas, até aquelas sobre as quais nunca falamos. Afinal, apontar o dedo, desnudar o outro, é o maior gesto de opressão. E esse é o momento em que preciso discordar do meu amigo Coringa: a vida não é um drama, a vida não é uma comédia, a vida, meus caros, é insana.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Nota do tempo de uma mania

Ana tem mania
de enrolar os seus cabelos

De separar uma mecha
e senti-la entre os dedos

De passá-la nos lábios
e conferir a maciez
Enrola e desenrola
para enrolar outra vez

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Contente imersão

freepik

A água desliza pelas linhas perfeitamente esculpidas daquele corpo ensaboado, dilata os poros e purifica a pele, liberando fragrâncias de ervas e plantas, de frutas e sais, de memórias adormecidas. Desperta a alma para as sensações de relaxamento, frescor e alívio. A leveza facilmente obtida ao ver que o fardo escorre pelo ralo. Um intenso vapor embaça o revelador da silhueta envolvida no tecido atoalhado e macio. Coração transborda e a circulação ferve alegria. Respiração profunda e um sorriso.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Desarranjo


FreeImages.com/Arquivo Pessoal

Quase sempre é atribuído aos problemas enfrentados por um determinado período da vida, já para os céticos basta a curiosidade. Funciona como os populares intitulam de “válvula de escape”. O portador permite algum tipo de dependência que pode ser física, psicológica, ou as duas juntas. Para manifestação dessas é necessário o uso de uma substância ou realização de alguma prática. A maioria tem, mas a minoria reconhece que tem e menos da metade da minoria procura por ajuda, isto é, uma mão amiga para obter livramento do que resultou a motivação de “escapar” daquilo que não se conseguiu administrar levando ao “aprisionamento” por ingestão, aspiração, inalação, aplicação, ou execução frequente de uma ação por ligeiros momentos de êxtase e despreocupação com a situação inicial. Quando o “escape” se torna “um tiro pela culatra”, encontra-se o “fundo do poço”, onde a submissão é total. O único jeito é gritar por socorro e, na melhor das hipóteses, se alguém ouvir, pedir-lhe que lance o balde. E a partir daí viver lutando constantemente com os resquícios, aparentemente inofensivos, daqueles vícios.

domingo, 22 de outubro de 2017

Drenador de pujança


FreeImages.com

A força vital é alvo constante de parasitas, por sua intensidade e potência. É um artifício bastante comum obter vigor alheio, inclusive de vítimas próximas. O preguiçoso não almeja realização pessoal, culpa terceiros por qualquer tipo de fracasso vivenciado e se faz hospedeiro de indivíduos com extrema vitalidade, talento, disposição, robustez, entusiasmo. Deposita esperança de um futuro melhor no mais bem-sucedido, porque está desenganado demais para depositar confiança em si próprio. Encontra-se incessantemente a paparicar aquele em quem visualiza algum tipo de benefício, pois busca satisfazer o ruminar de ressentimentos medonhos na intenção de manter viva e acessa a chama das vontades que melhor sabe dominar: a de uma vida sem propósito e ingrata.

terça-feira, 18 de julho de 2017

De repente 30

Parece que foi mesmo de repente, mas o período de 30 anos tem muita história. São tantos planos, tantos sonhos, tantas expectativas que se passam e quando vamos ver, já ficou tudo para trás. E num balanço otimista, a vida adulta na visão de uma criança é libertadora e fantasiosa como um pozinho mágico, mas na verdade tem de muitas dores, dores profundas, que nos fazem querer um travesseiro fofo para abraçar e um rosto amigo da época de infância para nos fazer acalmar, relembrar do quanto éramos realmente felizes e não sabíamos. Porém, as dores nos fazem crescer como ser humano, nos tornam mais fortes. Talvez o sucesso seja ser editora de uma grande revista de moda, passando por cima de tudo e de todos, ter um namorado famoso, trair pessoas e mentir o tempo todo... talvez. Ou talvez, sucesso seja valorizar seus familiares, ser honesto em seu trabalho, mascar as balinhas doces da infância, amar alguém e ser correspondido(a) e se casar bem ali no quintal dos familiares para viver completamente feliz na sua casa dos sonhos.