quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cecilêncio

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ATraíram-me para uma emboscada. Manso, símbolo, inocente. Sem malícia, para a minha desventura, confiei novamente neles. De tocaia, a flecha perfurou minha carne, enfraqueci por dois dias até arrancarem meu suspiro com o fogo. A violência da caça dilacerou minha cabeça, separou meus membros do meu corpo e santo Templo. Espedaçaram-me sem nenhuma piedade. O que levaram? Méritos? Uma foto... talvez, com meu cadáver em pedaços. O autor de minha ausência deveria estar sorrindo, afinal é um dentista. Um homem de sorriso impecável, letrado, inteligente, com capacidade impressionante para perseguir um pacato selvagem como eu. Meu caminhar tranquilo pela reserva, minha falta de estranheza aos visitantes, meu instinto animal, pequei. Sim, eu pequei por confiar neles, mas eles pecaram ainda mais por amputar meu estado físico, minha presença imponente, minha beleza exuberante. O meu espírito é imortal e os meus perseguidores serão perseguidos. Deixo o meu muito obrigado aos que se entristeceram junto aos diversos ataques que o mundo animal têm sofrido. Meu reinado não terminou, está apenas começando. Em breve, outros Reis, assim como eu, vamos estabelecer nosso Reino Eterno.


Cecil, Leão do Zimbábue.

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